domingo, 30 de setembro de 2012

Como vivem os judeus no Irã.

Os judeus vivem no Irã, a antiga Pérsia, há cerca de 3 mil anos. Passaram por tempos de tolerância, de igualdade, mas também de perseguições (raras). As últimas aconteceram logo após a Revolução Islâmica, de 1979 e, felizmente, duraram muito pouco. Assumindo o poder, o aiatolá Komeini, emitiu um fatwa (decreto) ordenando que os judeus deveriam ser protegidos pelo estado como uma minoria religiosa . E assim tem sido.

Hoje existem cerca de 25 mil judeus no Irã, a maioria absoluta em Teerã, mais do que em qualquer outro país do Oriente Médio, exceto Israel. A comunidade judaica dispõe de 20 sinagogas, escolas de hebreu, uma biblioteca com 20 mil títulos, um jornal (o “Ofogh-e-Bina”), um hospital (maior do que os de as outras minorias religiosas), um cemitério e uma casa de saúde para velhos. A prática de sua religião é livre. Os judeus tem direito de eleger um representante no parlamento. Como todos os cidadãos iranianos, eles fazem serviço militar, tendo muitos participado da guerra contra o Iraque, na qual 15 deles morreram. Eles podem tirar passaportes e viajar para onde quiserem, inclusive para Israel, através da Turquia. Somente há certas restrições para viagens da família inteira.

Os iranianos que vivem em Israel podem, normalmente, viajar para o Irã para visitar familiares. Em momentos como o que vivemos agora, no qual aumenta a perspectiva de uma guerra, os que fazem as viagens Irã-Israel ou vice versa são mal vistos. A emigração de judeus iranianos para Israel ou para os Estados Unidos, especialmente, foi grande logo depois da revolução de 1979. Nos anos posteriores, continuou embora em constante decréscimo.

Judeus iranianos ricos do exterior e entidades de Israel tem oferecido incentivos para os emigrantes com valores que variam entre 5 mil a 30 mil libras. Muitas vezes as somas pagas equivalem a mais de 3 vezes o ganho anual médio de um iraniano. No entanto, o índice de emigração tem sido baixo. Entre outubro de 2005 e setembro de 2006, apenas 152 judeus emigraram. Em fins de 2007, 40 judeus iranianos aceitaram incentivos financeiros de organizações sionistas e mudaram-se para Israel. Os motivos alegados pelos emigrantes são sempre econômicos ou familiares, viver junto a parentes no exterior.

Apesar do antagonismo entre Israel e Irã, não existe anti-semitismo na sociedade iraniana. Os judeus não são vistos como inimigos, partidários do governo de Israel. No entanto, eventualmente há problemas. Por vezes, um canal de televisão oficial confunde judaísmo com sionismo. Comentando o caso, disse o líder da comunidade judaica no Irã e membro do Parlamento, Ciamak Moresadegh : “Pensar que judaísmo e sionismo são a mesma coisa é como pensar que islamismo e talibã são iguais, o que não são.” Seu antecessor, Maurice Motamed, completou: “Em primeiro lugar eu sou iraniano; em segundo, sou judeu”.

Na guerra do Líbano, um jornal linha dura publicou fotos de uma sinagoga com pessoas agitando a bandeira de Israel. O texto dizia que se tratava de uma sinagoga no Irã, o que causou ataques a duas sinagogas. Os serviços de segurança do governo intervieram, acalmando os manifestantes e desmentindo a informação.

Quando o ultra-conservador Ahmadinejad tomou posse na presidência, os judeus temeram por sua sorte. Felizmente, nada mudou. Pelo contrário, Ahmadinejad mostrou boa vontade quando seu escritório fez uma grande doação ao hospital judaico, salvando-o de uma difícil situação financeira.

Embora louvando Ahmadinejad, os líderes judeus iranianos não deixaram de censurar sua declaração de que o Holocausto não teria existido. “É lamentável,” disse Motamed, “ver uma horrível tragédia como o Holocausto sendo negada… foi um grande insulto para os judeus de todo o mundo.”

Mas esta não é a única crítica que se faz ao governo no seu relacionamento com a comunidade judaica. Nos 33 anos após a revolução de 1979, 13 judeus foram executados a maioria sob acusação de espionagem em favor de Israel. Pelo menos um deles, o homem de negócios Ruhollah- Kadkhodah-Zadeh foi condenado sem um processo legal. Não tenho informações sobre os restantes 12 casos, não sei se as acusações eram verdadeiras ou falsas, nem se os réus tiveram um julgamento público. Há 7 anos, um grupo de judeus iranianos na cidade de Shiraz foi preso sob acusação de espionagem pró -Israel. Mas acabaram sendo declarados inocentes e devidamente liberados.

A comunidade judaica também se queixa de que, embora o governo permita a educação em hebreu, desencoraja a distribuição de textos nessa língua o que dificulta em muito o seu aprendizado. O Ministério da Educação do Irã obriga as escolas da comunidade a funcionarem também no sábado, o dia sagrado para os judeus.Mas esta é uma exigência feita a todas as escolas do país, religiosas ou não, portanto não pode ser considerada discriminatória. Os judeus iranianos também reclamam de uma estranha lei estabelecendo que um judeu convertido ao islamismo torna-se automaticamente herdeiro de todos os bens da família. Isso se aplica também aos membros de outras religiões em situações semelhantes.

Muitos judeus trabalham na administração pública e em empresas estatais mas dificilmente chegam a ocupar cargos da alta direção. No exército, eles nunca chegam a oficiais. No entanto, não há nenhuma lei proibitiva. Isso é censurável, mas convém lembrar que em Israel também não há islamitas diretores de órgãos públicos ou oficiais militares.

Apesar de estar esquentando o clima anti-sionista no Irã, por enquanto isso não está se refletindo negativamente nas pessoas da comunidade judaica. O que as preocupa mais são as ameaças de bombardeio proferidas pelo premier Netanyahu.

Ciamak Moresadegh explica : ‘Nós temos problemas em comum com os iranianos islâmicos. Se uma guerra começar, também seremos alvejados. Quando um míssil cai, ele não pergunta se você é judeu ou muçulmano. Ele cai.” 

Política internacional - Luiz Eça
 

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